segunda-feira, 4 de junho de 2007

COMO A PSICOLINGÜÍSTICA EXPLICA A DISLEXIA








Prof. Vicente Martins
Universidade Estadual Vale do Acaraú




No campo da Psicolingüística, a dislexia possui uma rica tipologia. Para descrever alguns tipos, vamos tomar como referência lexicográfica, para nossa refundição terminológica, o trabalho de M. F. Xavier e Mira Helena M. Mateus, organizadores Dicionário de termos lingüísticos (Lisboa: Cosmos: 1990).
A dislexia pode ser considerada um tipo de afasia sensorial. Como tal caracteriza-se, segundo as autoras, pela incapacidade de compreender palavras escritas ou impressas, proveniente de lesão no lóbulo lingual. O indivíduo é incapaz de ler correctamente, apesar de a sua visão ser perfeita e de poder soletrar ou, mesmo, escrever.
No caso da criança, especialmente no ensino fundamental, quando manifesta, a dislexia pode tratar-se de um fracasso inesperado na aprendizagem da leitura e da escrita na idade prevista (dislexia de desenvolvimento), enquanto no caso do adulto se trata de dificuldades na leitura depois de acidente vascular cerebral ou traumatismo cerebral (dislexia adquirida).
Basicamente, os autores apresentam os dois tipos fundamentais de dislexia: a adquirida e a desenvolvimental. A dislexia adquirida, como o próprio nome sugere, é um distúrbio adquirido que se caracteriza pela incapacidade de ler ou deterioração da função de ler, resultante de um acidente vascular cerebral ou traumatismo cerebral. São quatro os tipos de dislexia adquirida: dislexia fonológica, dislexia profunda, leitura soletrada (dislexia de estrutura de palavra ou síndrome de Déjerine) e dislexia de superfície.
A dislexia desenvolvimental ou dislexia de desenvolvimento refere-se a distúrbios de leitura e de escrita que ocorrem na educação infantil.Em geral, a criança tem dificuldade em aprender a ler e escrever e, especialmente, em escrever correctamente sem erros de ortografia, mesmo tendo o Q.I. acima da média. O nível de distúrbios é definido pelo teste de dislexia de Bangor.
Ao lado da dislexia adquirida e desenvolvimental, existem outras manifestações da síndrome disléxica. Uma delas é a chamada dislexia de estrutura de palavra que consiste na incapacidade de ler a não ser pronunciando em voz alta uma letra de cada vez. É o único tipo de dislexia adquirida que pode ser explicado do ponto de vista neurológico. Na maioria dos casos a escrita não é afectada.
Não menos importante é a dislexia de superfície que se define como a incapacidade de ler caracterizada por distúrbios que ocorrem entre o sistema de reconhecimento visual de palavras e o sistema semântico. O paciente continua, no entanto, a poder dizer a palavra já que o sistema de reconhecimento visual e o sistema responsável pela produção da voz continuam intactos.
A dislexia fonológica, de grande interesse para a Pedagogia, refere-se à incapacidade de ler em voz alta as não-palavras e as pseudo-palavras, por exemplo, "bur", "páquina", enquanto se mantém intacta a capacidade de leitura do vocabulário corrente. O indivíduo pode acusar igualmente outros sintomas, por exemplo, erros visuais ao produzir pseudo-palavras na leitura em voz alta, em vez da palavra existente, por exemplo "páquina" em vez de "máquina". Erros derivacionais também podem surgir na leitura oral, especialmente quando contêm morfemas presos.
Há dislexia profunda que pode ser definida como a incapacidade de ler sem cometer erros semânticos. As outras afirmam que podem observar-se, no caso da dislexia profunda, igualmente, outros sintomas, tais como deficiência visual, substituição de palavras funcionais e erros derivacionais. Palavras dificilmente representáveis por imagens tornam-se mais difíceis de ler em voz alta do que as de representação fácil; os verbos são mais difíceis de ler em voz alta que os adjectivos, os quais, por sua vez, são mais difíceis de ler do que os substantivos. O paciente pode ser diagnosticado como disléxico profundo se na sua leitura em voz alta forem detectados apenas erros semânticos.



Bibliografia básica:



Xavier, M. F. & M. H. M. Mateus (1990) (orgs.) Dicionário de termos lingüísticos. Volume 1. Lisboa: Cosmos



Sugestão de leitura:



CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. 284p
CHAPMAN, Robin S. et alii. (1996). Fala infantil: suposições de um modelo processual desenvolvimental para a aprendizagem inicial da linguagem. In CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. p.15 –29.
KAMBI, Alan G. (1996). Três perspectivas sobre processamento lingüístico: interacionismo, modularidade e holismo. In CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. p.52-69.
KENT, Raymond D. (1996). Desenvolvimento fonológico como biologia e comportamento. In CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. p.73-89.
MILOSKY, Linda M. (1996). As crianças na escuta: o papel do conhecimento de mundo na compreensão da linguagem. In CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. p.30-51.
SOLÉ, Isabel. (1998). Estratégias de leitura. Tradução de Cláudia Schilling. 6ª ed. Porto Alegre: ArtMed. 194 p.
STRAND, Edythe A. (1996). A integração entre o controle motor da fala e a formulação de linguagem nos modelos processuais de aquisição. In CHAPMAN, Robin S. (org.). (1996). Processos e distúrbios na aquisição da linguagem. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl e Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. p.90-109.


Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Ceará, Brasil. E-mail: vicente.martins@uol.com.br

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